A Covid-19 e a Saúde Mental no Esporte

A Saúde Mental dos atletas, dos treinadores e demais membros de comissões técnicas, pode estar comprometida diante da pandemia que estamos vivendo.

A Covid-19 e a Saúde Mental no Esporte

Esse momento atípico da humanidade tem sido muito difícil de lidar. Muitas perdas, lutos, angústias, notícias e perspectivas negativas. Nossas emoções estão oscilando com uma frequência maior. Nossa saúde mental tem sido afetada. Não era para ser diferente. É natural que experienciamos sentimentos conflitantes nesse período de vulnerabilidade em que estamos atravessando.

Categorias de Base e Esporte Amador


Os atletas de categoria de base e amadores estão sendo os mais afetados em decorrência do isolamento social devido a pandemia. A grande maioria das competições desses públicos não aconteceram ano passado, estão suspensas ou dificilmente ocorrerão. Equipes foram desfeitas por falta de patrocínio e perspectivas. Infelizmente, as expectativas para esse ano são similares ou até piores do que no ano de 2020. A realidade do coronavírus no país é gravíssima. Com o colapso no sistema de saúde. A vacinação em massa, até o momento, ainda é um sonho distante. A vacinação de crianças e adolescentes ainda é utopia.

Está aumentando as crises de ansiedade, as crises de pânico, os níveis de estresse, os episódios depressivos e em casos mais graves as ideações suicidas. Esses sintomas podem ocorrer em atletas de todas as idades e classes sociais. A incontrolabilidade e imprevisibilidade do momento, certamente, é um agravante. Com relação ao estresse, é sabido que uma de suas consequências em longo prazo é a queda na imunidade, ou seja, isso pode ser um problema potencial nesse momento. Aceitação e tolerância a frustração serão habilidades a serem desenvolvidas em tempos tão adversos. Estar focado no momento presente nunca foi tão importante. Viver um dia de cada vez tem sido fundamental nesse período.

Os jovens atletas estão cansados de treinos e atividades online. Mesmo sendo importantíssimo no momento. O único recurso para praticamente a maioria de equipes e clubes em todo o território nacional. Tenho percebido isso onde atuo e com os atletas com que trabalho. A motivação dessas pessoas, em geral, está baixa. Na adolescência o contato com o ‘mundo fora de casa’ é fundamental para o desenvolvimento físico, cognitivo e emocional. O grupo de amigos é quase tão importante quanto a família, assim como a escola. Para quem treina, o distanciamento presencial do contato cotidiano com os colegas de equipe, com as atividades esportivas nunca fizeram tanta falta. E nunca trouxeram tanta dor emocional, insatisfação, tanta tristeza, sentimentos negativos e desesperança. Alguns jovens estão desistindo do esporte. Desistindo de seus sonhos.

A Covid-19 e a Saúde Mental no Esporte

Esporte de Rendimento

No esporte de rendimento, perdemos a conta de quantos atletas e equipes foram afetados por essa doença terrível. O caso do jogador de futebol, Váldivia, do Avaí, foi o mais bizarro, avisado durante uma partida que estava contaminado deixando as pressas o gramado. Pessoas do esporte morreram em decorrência da covid-19. Treinadores, ex-atletas e amadores. Outros que sobreviveram estão com sequelas físicas e psicológicas. O ‘histórico de atleta’ não imuniza ninguém. Isso é piada cruel e sem graça nenhuma.

Protocolos científicos não estão sendo seguidos à risca por confederações, federações e equipes das diferentes modalidades. Criar uma bolha de isolamento nos moldes da NBA e NFL nos Estados Unidos é muito complexo e caro. Alguns atletas estão vivendo a dualidade de se submeter a treinar e competir para sobreviver e ter o medo da infecção para si e para as pessoas que amam. Ao contrário dos jogadores de futebol da primeira divisão que são ricos, alguns até milionários. A grande maioria dos atletas no brasil vive uma realidade totalmente diferente, precisam do salário para ter um mínimo de dignidade.

A vida das pessoas tem de ser cuidas e preservadas acima de qualquer circunstância. A política, ou melhor, a falta de uma boa gestão pública nos diversos níveis e o negacionsimo cientifico, mais uma vez esta afetando, a saúde, a economia, o esporte e a vida das pessoas. Quanta ignorância e incompetência estamos testemunhando sem conseguir reagir.

Ferramentas psicológicas para tempos de pandemia

Treino mental:

As técnicas de treinamento mental e equilíbrio emocional devem ser utilizadas pelos atletas para manter o cérebro ativo e condicionado nas rotinas psicológicas de treinamento. Nesse sentido, as práticas de visualização ajudam no desempenho físico, tático e técnico. As práticas meditativas auxiliam na redução da ansiedade, estresse e no desenvolvimento da concentração durante esse período de desgaste emocional e descontrole.

Autoconhecimento:

Desenvolver as habilidades para o autoconhecimento é um processo pessoal que leva tempo e disposição. De fato não existe receita de bolo compartilhada em larga escala. Cada pessoa ‘funciona’ de um jeito, se comporta de determinadas maneiras, sentem e respondem de formas diferentes. O ser humano é muito complexo para se enquadrar em estratégias prontas para serem replicadas a torto e a direto.
Tenho certeza absoluta que qualquer pessoa que desenvolve o autoconhecimento irá sofrer menos e será mais feliz em todos os aspectos de sua vida.

Flexibilidade psicológica:

Os atletas estão sendo afetados em todos os níveis de sua preparação. Do ponto de vista psicológico manter a resiliência em tempos de incertezas é muito complicado. Porém, é uma habilidade que pode ser aprendida. A flexibilidade psicológica (saber lidar com imprevistos e contratempos), praticamente, todo atleta ao longo de sua carreira passou por momentos em que foi necessário ultrapassar diversas adversidades. Esse momento é mais um, provavelmente, um dos mais difíceis, pela complexidade que se apresenta. O isolamento é uma questão de preservação da vida e contenção de perigos. Não é possível controlar a natureza e nem o comportamento das outras pessoas. Portanto, desenvolver a flexibilidade psicológica pode ajudar no autocontrole e no autocuidado.

Concluindo …

Não está sendo fácil, mas viver nesse período pandêmico pode ser uma oportunidade de olharmos para o nosso mundo interno com mais cuidado, respeito e zelo. Esse momento pode nos trazer uma oportunidade de autotransformação e resiliência para quem estiver aberto a essas experiências. Valorizar e preservar a vida, nosso bem maior. Nós seres humanos temos uma grande capacidade interna de nos adaptarmos, é da nossa natureza nos transformar nas adversidades que o mundo nos apresenta. Sigamos em frente! Honrando as vítimas e suas famílias dessa terrível doença. Vai passar! Resistiremos vivos!

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Abraços …

Até !!!

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