Copa das manifestações

drummondAcaba de terminar a Copa das Confederações a seleção brasileira sagrou-se campeã em vitória incontestável diante da equipe espanhola. Em minha opinião o resultado dentro de campo pouco importa. O momento sociopolítico que estamos vivendo é muito mais relevante, inclusive para o esporte. Até porque, os gastos públicos com a Copa do Mundo e a postura imperialista da Fifa também estiveram na pauta de muitas reivindicações nas ruas por todo o Brasil.

Um dos slogans de um patrocinador do torneio, “vem pra rua”, se tornou a marca das mobilizações  populares nas cidades onde ocorreram manifestações e nas redes sociais pela internet. Não é só por 0,20 centavos é por direitos. Somos a sétima economia do mundo, mas isso não se reflete na qualidade de vida da população brasileira, temos inúmeros problemas sociais e grande desigualdade. Todos os brasileiros querem serviços públicos de qualidade, independentemente de ideologia política, da classe social, temos consciência de que nosso país necessita de muitas melhorias e não falta dinheiro para isso. Já que, os impostos que pagamos são exorbitantes e o retorno que temos dos serviços oferecidos pelo poder público é de péssima qualidade. Vivemos numa sociedade extremamente preconceituosa, violenta e conservadora. São muitas as reivindicações, entre elas, os políticos que não nos representam e se tornaram uma casta que se apropriou do Estado em beneficio próprio. Necessitamos desenvolver nossa democracia, nossa cidadania e civilidade. O caminho é longo, é difícil, mas não é impossível.

Será que depois do que estamos vivendo nas últimas semanas dá para afirma que o futebol é o ópio do povo? Pão e circo? As manifestações fora e dentro dos estádios, inclusive, as de hoje   no Maracanã estão mostrando o contrário. Como escreveu o jornalista  Erich Beting, talvez o maior legado da Copa, seja o povo mais consciente.

Nunca antes na história, houve tantas manifestações em que  a credibilidade de uma entidade esportiva fosse tão contestada. Um dos dirigentes da Fifa,  Jerome Valcke já alegou que  “menos democracia, às vezes, é melhor para organizar uma Copa”, a frase fala por si mesma. Por isso, sou contrário a exigência “padrão Fifa” por hospitais e escolas, esse tem sido um dos temas reivindicados dentro e fora dos estádios. “Padrão Fifa”, é o padrão corruptível, classista, elitista, excludente, que não leva em conta a cultura local (por exemplo, a proibição da venda de pratos típicos dentro e fora dos estádios), ultrapassa a soberania nacional.  Queremos sim mudar, mas para padrões dignos e de alta qualidade.

Não podemos esquecer que o mesmo acontece com relação aos Jogos Olímpicos no Rio de Janeiro em 2016. O COB (Comitê Olímpico Brasileiro) com respaldo do COI (Comitê Olímpico Internacional)  quer derrubar o estádio de atletismo Célio de Barros e o parque aquático Júlio Delamare  que fazem parte do complexo esportivo do Maracanã, para ser construído no lugar um estacionamento em parceria com a iniciativa privada. Essa é a preocupação com a memória esportiva, tão propagado pelo espírito olímpico. As remoções de pessoas de suas casas sem consulta pública com as comunidades é uma realidade imposta por moradores das periferias e morros do Rio de Janeiro, política pública do Estado com a desculpa da mobilidade urbana para os eventos esportivos. Vale a pena conferir o documentário ” A caminho da Copa”, que ilustra bem o drama dessas pessoas. Foi prometido com um dos “legados” a despoluição da Baia de Guanabara e da Lagoa Rodrigo de Freitas, vamos aguardar.

bolas em brasiliaNão nos foi permitido escolher sediar os megaeventos esportivos, simplesmente não consultaram a população sobre a sua opinião a respeito desses acontecimentos. Um Governo sério que respeita seus cidadãos teria  consultado. Quando o Brasil ganhou a condição de sediá-los houve muitas promessas de investimento para as cidades e para os atletas brasileiros, na pratica muito pouco está sendo realizado, muito longe do prometido. Inclusive, os gastos para sediar esses eventos “viriam exclusivamente” da iniciativa privada, FIFA , CBF,COI e o COB são parceiros do Ministério do Esporte e do Governo Brasileiro e têm sua parcela de responsabilidade. Segundo o portal da transparência, órgão ligado ao Governo Federal os gastos com a Copa do Mundo são:  R$ 26.601.321.854,19. Já a matéria do site UOl mostra que os gastos públicos foram muito maiores.

Tanto dinheiro sendo desperdiçado e a realidade de nossos atletas ainda carecendo de estrutura para  treinos e competição de alto nível. O campeão olímpico, Arthur Zanetti, é um caso emblemático de irresponsabilidade e incompetência dos dirigentes esportivos. Quase um ano após a conquista da medalha de ouro inédita para a ginástica brasileira e as suas condições de treinamento são praticamente as mesmas. Se isso ocorre com um medalhista de ouro, imagina qual é a realidade dos outros? O mesmo ocorreu após o ouro de Cesár Cielo nos Jogos Olímpicos de Pequim  em 2008, a natação daria “um salto de qualidade”, diziam os dirigentes esportivos. A natação nacional não mudou muito nesse período. Infelizmente, outros exemplos, poderiam ser lembrados. A realidade é que não há plano nacional para os esportes de alto rendimento, não há política para o desenvolvimento e a massificação do esporte em nenhum nível, o Ministério do Esporte é uma piada. Distribui recursos como nunca antes, porém, não fiscaliza, não há transparência, não cobra as confederações, federações e o Comitê Olímpico Brasileiros dos gastos do nosso dinheiro. A gestão é pífia e omissa.

CBFGrandes ídolos do futebol também estiveram no centro das discussões nas últimas semanas. Pelé, Ronaldo, Bebeto e Romário. Os três primeiros, fazem parte do COL (Comitê Organizador Local) falaram muitas bobagens  totalmente fora de sintonia com as manifestações populares, defendendo os métodos praticados por órgãos públicos e reforçando a ideia de que são escudos para os políticos e para a Fifa. Já Romário, têm sido a voz das ruas, ataca a Fifa, sem poupar os dirigentes esportivos, os políticos e o Governo. Ele quer propor uma CPI contra a CBF. Ao contrário de muitos políticos, Romário surpreende positivamente, não é um oportunista, vem sendo há tempos um dos poucos questionadores dos gastos públicos com os megaeventos, com o esporte em geral e com a continuidade dos dirigentes em seus cargos.

Será que acordamos? Será que seremos protagonistas nas participações e decisões de nossa democracia? O tempo dirá, ainda é cedo para conclusões precipitadas. O fato é que desejamos mudanças profundas.

Abraços.

Até!!!

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