Entrevista – Revista Psique

psique originalFui convidado pela Revista Psique (edição de Agosto de 2015 – Ano IX, número 117) para uma entrevista sobre a atuação da Psicologia do Esporte.
http://psiquecienciaevida.uol.com.br/ESPS/Edicoes/117/nas-derrotas-achamos-solucoes-para-as-vitorias-rodrigo-falcao-364114-1.asp

Entender como os fatores psicológicos influenciam o desempenho físico e compreender como a participação nessas atividades afeta o desenvolvimento emocional, a saúde e o bem-estar de uma pessoa nesse ambiente. Esses são os desafios centrais do profissional que se dedica à Psicologia do Esporte.

Embora a atuação profissional mais conhecida esteja relacionada aos esportes de rendimento, o psicólogo do esporte tem um leque amplo de atividades. Pode trabalhar na orientação de exercícios físicos como manutenção da saúde e do bem-estar; na relação do praticante com o ambiente escolar; na iniciação esportiva de crianças e jovens envolvidos em atividades esportivas, pedagógicas e competitivas; na recuperação psicológica de atletas lesionados e pessoas que realizam atividade esportiva como meio para reabilitação; e em projetos sociais que usam o esporte como ferramenta complementar da educação, da socialização de crianças e jovens de comunidades pobres.

O psicólogo Rodrigo Scialfa Falcão, formado pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, mestre em Esportes para Resolução de Conflitos pela Universitat Oberta da Catalunya/Unesco e especialista em Psicologia do Esporte pelo Instituto Sedes Sapientiae atualmente é supervisor de Psicologia no Instituto Rugby para Todos, projeto social que atende mais de 200 crianças e jovens da comunidade Paraisópolis, em São Paulo, e atua, também, na ADC Bradesco Educação e Esporte como psicólogo do esporte das categorias sub 17 e 19 de basquete feminino (www.psicologianoesporte.com.br). Além disso, ainda atua como psicólogo clínico com especialização em Terapia Comportamental e Cognitiva.

Ele resume a importância do seu trabalho e de sua área de atuação da seguinte forma: “O esporte é uma metáfora perfeita da vida. Ganhamos, perdemos, nos emocionamos, caímos, levantamos, nos frustramos, crescemos, aprendemos, nos superamos, nos retiramos, damos lugar a outros que nos substituem”.

Em que consiste e quais são as áreas de atuação da Psicologia do Esporte?
Rodrigo Scialfa Falcão:
A Psicologia do Esporte é uma ciência que estuda o comportamento de pessoas envolvidas no contexto esportivo e de exercício físico. O objetivo do psicólogo do esporte é entender como os fatores psicológicos influenciam o desempenho físico e compreender como a participação nessas atividades afeta o desenvolvimento emocional, a saúde e o bem-estar de uma pessoa nesse contexto. A atuação profissional mais conhecida está relacionada aos esportes de rendimento. Entretanto, não é só o esporte competitivo o foco de atuação do psicólogo do esporte. As áreas de intervenção são compostas, também, pelas práticas de tempo livre (exercícios físicos como manutenção da saúde e do bem-estar), pelo esporte escolar (a relação do praticante com o ambiente escolar, nos mais variados graus), pela iniciação esportiva (crianças e jovens envolvidas em atividades esportivas, pedagógicas e competitivas), pela reabilitação (recuperação psicológica de atletas lesionados e pessoas que realizam atividades esportivas como meio para reabilitação, por exemplo obesos, doentes cardíacos, doentes mentais, pessoas com necessidades especiais, entre outros) e pelos projetos sociais (que têm como intuito principal utilizar o esporte como ferramenta complementar da educação, da socialização de crianças e jovens de comunidades pobres).

mao do brasilQuais são os principais aspectos emocionais a serem analisados funcionalmente em atletas de alto rendimento?
Falcão:
Cada pessoa possui um padrão de comportamento distinto. Portanto, existem demandas individuais diferentes para cada atleta, mesmo sendo de uma mesma equipe, mas algumas habilidades psicológicas são fundamentais para qualquer modalidade esportiva, como gerenciamento de estresse e ansiedade, nível de atenção e concentração, tolerância à frustração, motivação, equilíbrio emocional, habilidades sociais para lidar em grupo.

Até que ponto a concentração interfere no desempenho de um atleta durante uma competição?
Falcão:
Depende da modalidade esportiva. Algumas requerem mais recursos do que outras. Estar concentrado é uma habilidade psicológica muito importante para qualquer atleta, porém pode haver níveis diferentes de concentração, dependendo da situação exigida na competição. Por exemplo, para um pivô no basquete e um atleta de tiro esportivo as exigências são muito distintas. Durante uma competição, a concentração pode ser determinante para o resultado.

Como você observa a intersecção entre a prática esportiva relacionada a questões das conexões cerebrais e liberação de substâncias como a serotonina, que estimula o prazer, e a compulsão por exercícios, a busca pelo corpo perfeito? Como perceber o limite entre esses dois aspectos?
Falcão:
É sabido que praticar exercícios faz bem para a saúde física e psicológica e os ganhos disso são amplamente divulgados. Contudo, há pessoas que passam do limite, exageram e podem ser diagnosticadas com vigorexia, que é o nome dado para quem possui dependência em exercícios físicos. Quando uma pessoa deixa de se relacionar socialmente, evita encontros sociais com amigos e familiares para se exercitar, está sempre extremamente preocupada com o que come e com dietas para turbinar o rendimento, utiliza anabolizantes e diuréticos, exagera nas horas em que se exercita, entra em overtraining, se lesiona, se torna um fanático por essas atividades, se irrita, f ica ansioso, agressivo quando não consegue se exercitar, acredita que necessita de mais tempo de seu dia para dar conta de sua necessidade de treinar são alguns sintomas dessa patologia. O grande problema é que o diagnóstico é difícil, já que é uma patologia que ainda não está descrita especif icamente nos manuais médicos, como o DSM e a CID -10. Não existem o estigma e o preconceito envolvendo a pessoa com vigorexia, é até socialmente aceita uma pessoa que se exercita em demasia em comparação com uma pessoa que é sedentária e obesa, até porque existe uma forte representação cultural pelo culto à beleza, à vaidade e à estética. Os circuitos cerebrais e f isiológicos acionados nos dependentes de exercícios e nos dependentes químicos são muito similares.

Dentro de uma abordagem abrangente, como é lidar com atletas jovens em relação a características necessárias para uma boa performance, como concentração, determinação e equilíbrio emocional?
Falcão:
Para qualquer profissional de diferentes disciplinas que atue diretamente com atletas jovens, é preciso levar em conta as competências físicas, cognitivas e emocionais para cada faixa etária. Entretanto, a exigência de alta performance em categorias de base é muita alta. Infelizmente, o resultado está à frente da formação de pessoas. Muitos técnicos não sabem como lidar com isso. Não dá para exigir de uma criança de 12 anos o mesmo desempenho de um adolescente de 17 e, desse modo, o mesmo de um atleta adulto. O papel do psicólogo nesse contexto é auxiliar pontuando essas questões a todos os envolvidos (comissões técnicas, atletas e famílias), além de procurar promover o bem-estar psicológico e propiciar a qualidade de vida e a saúde mental dos jovens atletas. Algumas modalidades podem influenciar negativamente do ponto de vista do desempenho esportivo (vou usar o tênis como exemplo, mas isso acontece em muitas modalidades), praticamente o mesmo tênis é praticado por profissionais e por adolescentes de 13 anos, há poucas variações nas regras, nos equipamentos, na contagem dos pontos, nas dimensões da quadra. Já tive o desprazer de assistir a uma partida de tênis de garotos de 14 anos durar por quase três horas, num campeonato estadual de classe inferior, e o vencedor ter de voltar a jogar no outro dia. Não sei o quanto esse tipo de exigência de performance pode ser saudável. O fato é que nas categorias de base, de modo geral, há muito mais tendência ao adoecimento do que à saúde. A presença de psicólogos do esporte é negligenciada na grande maioria dos clubes esportivos, há muito desrespeito à integridade humana, não se pensa em prevenção, promoção da saúde, profilaxia para os jovens atletas. Há muitos jovens que adoecem e não encontram o amparo adequado nas respectivas agremiações. O ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente) é claro com relação a isso. Existe um disposto na lei que garantiria acesso à saúde de jovens que estão alojados em clubes esportivos ou similares. No entanto, é mais uma lei que não se cumpre no país.

Os atletas de competição jovens, por não estarem definitivamente formados em sua personalidade, podem encontrar dificuldades para lidar com a pressão por desempenho melhor? Como a Psicologia Esportiva pode ajudar nessa questão?
Falcão:
Com toda certeza, vai depender muito de como as pessoas que estão em torno desse jovem lidam com esses aspectos, o papel da família é fundamental. Os adolescentes são muito exigentes consigo mesmos, as pressões por rendimento esportivos são inevitáveis, principalmente porque nessa fase a aceitação pessoal e pelo grupo é muito importante. As comparações são recorrentes e muitos jovens não conseguem lidar bem com isso, alguns podem sofrer bulliyng, se estressar, abandonar as atividades precocemente. Nosso papel é de buscar a cautela, fortalecer o indivíduo, a sua autoestima e autoimagem, procurar o equilíbrio emocional, a ludicidade e o prazer pela prática esportiva e pela competição saudável, tentando contribuir para a reflexão, para que o jovem conheça os próprios limites, suas qualidades pessoais, pensando em sua qualidade de vida, no gerenciamento de ansiedade e na saúde mental dessas pessoas.

saltoMuitos dizem que os interesses de empresários e familiares podem prejudicar a trajetória dos atletas profissionais. Qual a sua avaliação sobre o prep aro psicológico do atleta brasileiro, em geral, frente à condução de sua carreira?
Falcão:
Sem dúvida, a família é sempre um elemento muito importante na vida de qualquer atleta, para o bem e para o mal. O ex-tenista Andre Agassi já relatou em sua biografia que seu pai foi quem o obrigou a treinar e que foi difícil para ele lidar com sua excessiva cobrança, mesmo depois de ser um atleta consagrado. No mundial de natação, em 2004, um pai agrediu sua filha por ela não ter obtido o resultado que ele esperava. As cenas lamentáveis correram o mundo. Não podemos esperar da família a exigência por resultado, a cobrança no esporte já é algo inerente e mais pressão de quem deveria dar apoio só tende a prejudicar. No ramo empresarial, como em qualquer setor de atividade, há empresários que conduzem bem a carreira dos atletas que eles gerenciam e, também, há os inescrupulosos e gananciosos. Tudo passa pela formação. Dificilmente um atleta que conseguiu ter boa formação e boa estrutura familiar será prejudicado por seus empresários. Eu acredito que o atleta brasileiro que compete em alto nível, seja qual for a modalidade, é um resiliente, um sobrevivente, um super-herói. Não é fácil ser atleta de ponta nesse país. Ele literalmente supera obstáculos grandiosos, o sistema não contribui para o seu desenvolvimento. Ao contrário, o atleta brasileiro tem uma motivação absurda. Estamos às vésperas de sediar os Jogos Olímpicos e a nossa base é pífia, nossa estrutura esportiva é péssima, não existe um programa nacional de democratização do esporte para a população e nem de alto rendimento. O esporte também é subutilizado como ferramenta para prevenção e promoção da saúde, para o desenvolvimento educativo. Uma pesquisa da ONU mostrou que para cada dólar investido em atividades esportivas são economizados três dólares com saúde pública. Ou seja, o esporte não pode ser considerado gasto e, sim, investimento. Com uma estrutura dessa os poucos que conseguem bons resultados em mundiais, Jogos Olímpicos e demais competições internacionais deveriam ser reverenciados. Creio que muitos atletas brasileiros desenvolvem uma espécie de “complexo de vira-latas” ao se depararem com atletas de países com mais tradição e potencial. A impressão que tenho é do tipo de pensamento “foi tão difícil chegar até aqui, já me dou por satisfeito”, quando creio que deveria ser ao contrário, usar essa dificuldade absurda como mais um combustível para encarar os adversários, sejam eles quais forem. Os atletas brasileiros necessitam de autoestima, precisam ser valorizados por todos e, também, se sentirem valorizados por eles mesmos.

Em que medida a atividade física pode ajudar na obtenção do equilíbrio emocional e da saúde psicológica como um todo? Quais as principais contribuições da Psicologia do Esporte no sentido de auxiliar a criança que pratica alguma modalidade a aprender a se concentrar, buscar objetivos, ter disciplina, até mesmo para outros setores da vida?
Falcão:
A Educação Física escolar tem um papel fundamental na formação e no desenvolvimento de crianças e jovens, não só do ponto de vista físico, mas, também, intelectual. A prática de educação física escolar é negligenciada na maioria das escolas públicas do país, muitas não possuem quadra poliesportiva. Em muitos colégios particulares, esse fenômeno também acontece em decorrência do ensino para o ingresso no vestibular. Alguns estudos indicam que crianças que se exercitam com frequência de pelo menos duas vezes na semana têm melhores resultados cognitivos na escola do que crianças sedentárias. A prática esportiva pode ser um excelente caminho para o desenvolvimento humano e pessoal, a convivência em grupo, a disciplina, a aceitação de regras, a superação, a competição saudável, a tolerância à frustração. Muitos valores éticos e morais podem ser aprendidos através do esporte, porém a mediação dessas situações por pessoas treinadas adequadamente é fundamental.

Muito se especulou em relação ao desempenho dos jogadores da seleção na Copa do Mundo do Brasil, que eles não estariam suficientemente prep arados psicologicamente para a disputa, o que resultou na histórica derrota de 7 a 1 para a Alemanha. Qual a sua avaliação?
Falcão:
A responsabilidade por aquele vexame do Brasil na Copa não deve ser colocada na conta da preparação psicológica, como foi mencionado por alguns atletas e por parte da mídia, após o episódio. Esse é o caminho mais fácil e previsível. Acredito que toda a preparação (técnica, tática, física e emocional) foi inadequada, o futebol brasileiro parou no tempo, vive de suas glórias do passado e seus dirigentes acreditam que isso basta para ganhar campeonatos. O fantasma de 1950 (derrota na f inal da Copa do Mundo para o Uruguai, no Maracanã) rondou todos os estádios em que a seleção jogou e foi sepultado com o 7 a 1. A Copa era a pressão de um país inteiro e com ela todo o simbolismo e a representatividade cultural que o futebol exerce em nosso povo, ou seja, ganhar a Copa, apesar dos custos faraônicos dos estádios, apesar dos políticos e dos problemas sociais que temos. O futebol no Brasil é mais do que um esporte. É muito mais complexo do que isso.

O fato de os jogadores chorarem muito na execução do Hino Nacional e durante a disputa de pênaltis na partida contra o Chile demonstra essa falta de prep aração psicológica?
Falcão:
Não vejo dessa maneira com relação ao Hino Nacional. Para mim isso foi algo que motivou os atletas pouco antes da partida. Mas só isso não basta para um time vencer. Nos pênaltis poderia ser um desabafo de algum jogador. Porém, seria leviano de minha parte analisar esses aspectos sem estar presente no grupo para saber o que realmente ocorreu. O choro não pode ser considerado sinal de fraqueza. Há pessoas mais emotivas e sensíveis do que outras e que se emocionam com mais facilidade. Para alguns, chorar poderia estar relacionado ao alívio da pressão que existia naquele momento. Carregar um país com 200 milhões de torcedores nas costas, que exigem somente a conquista do campeonato em casa, não é brincadeira.

Como lidar com as derrotas? Aliás, é mais difícil lidar com os fracassos ou com o sucesso no universo esportivo?
Falcão:
Com toda certeza, é mais fácil lidar com o sucesso. Algumas derrotas podem ser traumáticas para quem vivenciou, perdurarem por muito tempo e, às vezes, até não serem esquecidas por atletas, torcedores, pela mídia. Infelizmente, existem trajetórias de atletas excepcionais que ficam marcadas por alguma derrota emblemática. Pode parecer clichê, mas o esporte é feito de derrotas e vitórias, e as derrotas podem ser um meio para o desenvolvimento do atleta e de equipes. Nas derrotas podemos achar as soluções para alcançar as vitórias. O que move o esporte é a competição e as vitórias são muito mais importantes, em muitos aspectos, por exemplo, para a construção de ídolos. O esporte de alto rendimento é feito de resultados positivos, ser vencedor é o objetivo primário de qualquer atleta. Porém, as vitórias, em muitos momentos, podem esconder aspectos negativos da preparação de uma equipe. É necessário ter hombridade na derrota e humildade na vitória.

Ainda hoje, no futebol brasileiro, o psicólogo do esporte é observado com reservas por alguns jogadores e técnicos. A razão seria pelo fato de que o futebol continua sendo encarado como um esporte masculino e que o universo dos homens não permite demonstrações de fragilidade?
Falcão:
Não é só no futebol que acontece isso, talvez fique mais evidente por ser a modalidade mais popular no planeta, Mas, infelizmente, ainda há pouca abertura para o psicólogo do esporte na maioria das modalidades, por puro desconhecimento. Sem dúvida, o preconceito é um componente importante com relação à representação que a Psicologia exerce no imaginário social, pois ainda é relacionada à patologização, à cura dos problemas emocionais. Muitas vezes, os papéis da Psicologia do Esporte e da Psicologia Clínica são confundidos. Na verdade, são especialidades diferentes. Não se “transporta” para o ambiente esportivo o “divã”. As estratégias de intervenção dessas áreas podem ser, em alguns momentos, similares. Porém os objetivos são distintos.

Sendo assim, o que o profissional da Psicologia precisa fazer para ganhar mais espaço no futebol brasileiro?
Falcão:
Meu desejo é que a Psicologia do Esporte seja incluída em todo o esporte nacional e não só no futebol. Ética é fundamental, ter respaldo de atletas, comissões técnicas e dirigentes. Profissionais habilitados para atuação, ou seja, com conhecimento específico e científico. Com tempo para desenvolver um trabalho, em qualquer atuação em Psicologia, os resultados acontecerão de médio a longo prazo.

A Psicologia do Esporte virou moda? Alguns especialistas afirmam que é uma corrente emergente. O que falta para que ela seja vista com mais naturalidade?
Falcão:
Apesar de a Psicologia do Esporte ser tão antiga quanto a formalização da Psicologia como profissão: em 1958, João Caravalhaes esteve presente na comissão técnica que trouxe o primeiro campeonato mundial de futebol da Suécia. A consolidação como área começou a se desenvolver com mais força a partir da década de 1990. Podemos considerar como área emergente, mas não como moda, já que ainda, infelizmente, é um mercado restrito à pouca oferta de trabalho, apesar das demandas, que são inúmeras, tanto práticas quanto acadêmicas.

Em relação especificamente aos esportistas paralímpicos, há necessidade de um acompanhamento psicológico diferenciado em função da deficiência que, em muitos casos, fragiliza ainda mais a personalidade da pessoa?
Falcão:
Algumas adaptações à realidade das pessoas com deficiência são imprescindíveis, conhecer essas limitações é essencial para desenvolver um trabalho consistente. Mas o foco deles é a competição e o desempenho esportivo dentro das limitações físicas que cada atleta possui. A prática de esporte para pessoas com deficiência é um grande veículo de inclusão social, de diminuição de preconceitos, de fortalecimento da autoestima, da superação de limites, aspectos positivos que podem favorecer o desenvolvimento pessoal de quem pratica e de quem se envolve nesse contexto.

É possível afirmar que o esporte e a atividade física podem contribuir para que uma pessoa se torne vencedora na vida ou, pelo menos, psicologicamente melhor?
Falcão:
Certamente, o esporte é subutilizado como ferramenta educativa para o desenvolvimento pessoal e emocional. Atingir metas esportivas, buscar a superação, novas habilidades, podemos generalizar esses ensinamentos para outros contextos de nossa vida. A prática de atividades esportivas pode levar ao autoconhecimento, à motivação, à autoconfiança, à disciplina, à mudança de hábitos, elevar a autoestima, entre outros aspectos.

Existem diferenças na atuação da Psicologia Esportiva entre esportes individuais e coletivos?
Falcão:
Nas modalidades coletivas algumas responsabilidades podem ser partilhadas. Isso não acontece em modalidades individuais, onde todo o desempenho atlético é fruto do comportamento de uma pessoa. Há diferentes técnicas e recursos que usamos para grupos e para atletas individuais. Quando trabalhamos com equipes devemos desenvolver a coesão entre os seus membros. Cada modalidade esportiva tem suas peculiaridades, sua cultura e seu universo, e a Psicologia do Esporte tem de se adaptar a essas situações, pois as modalidades são diferentes umas das outras, assim como as capacidades físicas, técnicas e táticas são diferentes de uma modalidade para outra. Isso também acontece com a preparação psicológica. Os recursos necessários para um bom desempenho de maratonistas são diferentes dos recursos dos esgrimistas, que são também diferentes dos dos jogadores de handball.

Quais as últimas pesquisas científicas e avanços sobre a Psicologia do Esporte?
Falcão:
A Neurociência vem contribuindo muito. Áreas como a Psicobiologia do Esporte vêm nos ensinando técnicas para melhorar o desempenho de atletas e equipes. Além de estudos sobre testagem psicológica de determinadas habilidades esportivas. Há uma enorme demanda acadêmica no país para todas as áreas da Psicologia do Esporte. Necessitamos de mais pesquisadores e estudantes, para construir uma ciência mais consolidada.

Do ponto de vista psicológico, o esporte pode ser considerado uma metáfora da vida?
Falcão:
Sim, uma perfeita metáfora da vida. Ultrapassamos os obstáculos quando nos empenhamos. Ganhamos, perdemos, nos emocionamos, caímos, levantamos, nos frustramos, crescemos, aprendemos, nos superamos, nos retiramos, damos lugar a outros que nos substituem…

***
Abraços…
Até !!!

1 comentário em “Entrevista – Revista Psique”

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