Esporte para todos?

esporte-para-todos-logoEstamos muito perto de mais uma eleição onde escolheremos nosso presidente. Até dias atrás nenhum candidato ao cargo havia se manifestado a respeito de uma política esportiva no Brasil.  Apenas muito recentemente após as revindicações de  setores ligados ao esporte, como os Atletas pelo Brasil e de alguns jornalistas,  a candidata pelo PSOL, Luciana Genro mostrou seu interesse sobre esse assunto e apresentou um esboço de programa, pouco depois Aécio Neves, fez o mesmo. Dilma Rousseff e Marina Silva ainda não se manifestaram a respeito e dão a entender que o esporte não é uma das prioridades para elas.

Não houve nos debates e entrevistas dos candidatos a presidente até o momento nenhuma preocupação, proposta ou projeto político  apresentado para utilizar o esporte como ferramenta mais ampla. Percebo que a visão do poder público e dos políticos é muito restrita ao alto rendimento, não existe uma compreensão esportiva voltada para auxiliar na educação, no lazer ou na  promoção da saúde da população brasileira. Dados da Organização Mundial da Saúde, revelam que cada dólar investido em acesso à prática esportiva corresponde a três dólares economizados em saúde pública.

Como psicólogo do esporte ao longo do tempo, tenho tido o privilegio que me permite conhecer clubes pelo país afora e principalmente na região metropolitana de São Paulo, ao acompanhar atletas e equipes em competição. Sempre fiquei incomodado com a mesma situação. Independentemente se o clube é pequeno, de médio, de grande porte ou tradicional, há muita ociosidade na grande maioria desses locais durante os dias da semana, principalmente nos períodos da manha e da tarde, ou seja, campos, ginásios, quadras e piscinas subutilizadas.

Sou a favor da criação de parcerias público privadas sérias e de longo prazo que pudesse promover e implantar projetos para democratizar o acesso a atividades esportivas para a população em geral. Em contra partida, talvez, isenções fiscais e tributárias  por parte dos governos para clubes e associações esportivas particulares que fomentasse esse tipo de iniciativa. Sei também, que a questão dos sócios dos clubes com relação a frequentadores fora do quadro associado é um “vespeiro”, é um assunto muito controverso. Muitos clubes ainda possuem uma visão extremamente elitista, conservadora, classista e preconceituosa. Relatos de intolerância e discriminação com casais homossexuais já foram expostos na mídia. Babás têm de trajar uniformes brancos para frequentar as dependências de algumas instituições. Algumas pessoas não gostam de ‘gente diferenciada’ ocupando o mesmo espaço e supostamente ‘aproveitando’ de seus privilégios exclusivos. Mudar esse paradigma necessita coragem do poder publico e vontade da sociedade.

A obesidade tem aumentado exponencialmente na população brasileira, somos um país cada vez mais de pessoas sedentárias. E os custos da inatividade física giram em torno de 12 bilhões de dólares por ano. Estudos apontam que se nada for feito a próxima geração poderá viver 5 anos a menos que seus pais. As cidades têm poucos espaços e programas gratuitos para a prática da atividade física, nas regiões mais carentes isso piora. A prefeitura da cidade de São Paulo promete reabrir no dia 19 de setembro o Clube de Regatas Tietê que acumulou dividas milionárias por processos trabalhistas e impostos atrasados passando para o controle da prefeitura. O local contará com 5 ginásios, 5 quadras de tênis, 4 de basquete, outras 4 poliesportivas, pista de caminhada e 19 mil m² de área livre para uso gratuito para a população da cidade. É uma excelente iniciativa, mas ainda muito tímida tendo em vista a demanda existente na capital paulista por espaços públicos de lazer.

Pesquisas indicam que crianças mais ativas aprendem mais do que as crianças sedentárias.  O esporte  deveria ser integrado aos processos educacionais pois colabora para a melhoria da qualidade de ensino, promovendo o acesso, a permanência e a aprendizagem na escola. Infelizmente, isso ainda é utopia, pois a maioria das escolas públicas brasileiras não possuem quadras poliesportivas e a educação física ainda não faz parte do plano pedagógico de muitas escolas.

ainda melhoresAs recomendações do relatório da ONU para os objetivos do Milênio inclui o esporte como uma ferramenta potencial:

1. O esporte deve ser bem integrado na agenda do desenvolvimento.
2. O esporte deve ser incorporado como uma ferramenta útil nos programas para o desenvolvimento e a paz.
3. As iniciativas baseadas no esporte devem ser incluídas nos programas de países das Agências das Nações Unidas, conforme apropriado e de acordo com necessidades localmente avaliadas.
4. Programas que promovem o esporte para o desenvolvimento e a paz necessitam de mais atenção e recursos por parte dos Governos e do sistema das Nações Unidas.
5. As atividades baseadas na comunicação que utilizam o esporte devem focalizar na mobilização social e na conscientização bem direcionados, particularmente nos níveis nacional e local.
6. Uma recomendação final de força tarefa é que a maneira mais eficaz de implementar os programas que  usam o esporte para o desenvolvimento e a paz é  através de parcerias.

O esporte é um fenômeno social globalizado que atinge todas as culturas no planeta. Porém, a pratica esportiva ainda é restrita. Falta vontade política para sua democratização e acesso, já que isso é um direito previsto em nossa constituição. Não estamos fazendo a lição de casa no nosso país, já perdemos uma excelente oportunidade de desenvolver e massificar o esporte por aqui, mesmo diante dos enormes gastos públicos com o país sediando a Copa do Mundo de Futebol e as vésperas dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos do Rio. Precisamos que o esporte entre na agenda publica com urgência.

Referencias:

http://blogdojuca.uol.com.br/2014/09/o-esporte-nao-existe-para-os-candidatos-a-presidencia/

http://atletaspelobrasil.org.br/carta-aberta-aos-candidatos-a-presidencia/

https://secure.avaaz.org/po/petition/Presidente_Dilma_Rousseff_Crie_um_grupo_de_trabalho_para_definicao_de_um_Sistema_Nacional_do_Esporte/?launch

http://lucianagenro.com.br/programa/esporte/

 http://rems.org.br/index.php/manifesto/

http://capital.sp.gov.br/portal/noticia/3713#ad-image-0

Abraços!
Até!!!

1 comentário em “Esporte para todos?”

  1. Caro Rodrigo, parabéns por mais uma pertinente análise sobre o contexto do Esporte no país!
    Ainda precisamos avançar muito para realmente construir uma política pública séria na área!

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