Esporte pela Democracia e Direitos Humanos.

Esporte pela Democracia e Direitos Humanos.

No dia 02/06/2020, o comentarista de futebol e ex-jogador, Walter Casagrande, lançou em seu twitter a campanha, “Esporte pela Democracia“. Integrado por nomes influentes de várias modalidades, o grupo lançou um manifesto em defesa dos direitos humanos, liberdade de imprensa, diversidade e valores democráticos.


“Nós, atletas, ex-atletas e profissionais ligados ao esporte, cidadãos brasileiros antes de tudo, afinados com o pensamento de diversas categorias e nos juntando às vozes que pactuam com a democracia, os direitos humanos e civis, respeito à vida e à diversidade, estamos aqui unidos em nome daquilo que sempre acreditamos e praticamos em nossas profissões e deve se estender sem restrições ao exercício cotidiano: o direito supremo à vida, a uma sociedade justa e igualitária, ANTIRRACISTA, o respeito das individualidades e o valor do coletivo em nome do bem-estar e da dignidade para todos.

O sonho de todo atleta é representar o seu país. Estamos então aqui hoje para reconvocar a lucidez, diante da questão inadiável: que Brasil é esse que queremos trazer na camisa e chamar de nosso?
SOMOS UM GRUPO, NÃO TEMOS UM LÍDER, TODOS TEMOS O MESMO PESO, E A NOSSA VOZ TEM O MESMO VALOR!
#EsportePelaDemocracia“.
Texto de Walter Casagrande.

Outras personalidades integram esse grupo: a ex-nadadora Joanna Maranhão, além de Gustavo Kuerten (tênis), Luciano Corrêa (judô), Ana Moser, Fabi, Fê Garay, Isabel, Pedro Solberg e Serginho (vôlei), Alex Pussieldi e Arilson Silva (natação), Grafite, Igor Julião, Juninho Pernambucano, Raí e Reinaldo Lima (futebol), os ex-árbitros Carlos Simon e Salvio Spinola e os jornalistas José Trajano, Juca Kfouri e Lúcio de Castro.

Esporte pela Democracia e Direitos Humanos.

No passado atletas já haviam se posicionado politicamente, Socrátes, Reinaldo, Paulo Cesár Caju, Júnior, Afonsinho, entre outros contra a ditadura militar. Num passado não tão distante, Tinga, Taysson, Roger Machado, Marcão, Ludmilla, Aranha, Grafite, se manifestaram contra o racismo que sofreram em campo ou fora dele.
Ao contrário do que pensam os “Tiagos Leiferts” e os “Caios Ribeiros” da vida, esporte e política estão intimamente relacionados. Os atletas podem sim se manifestar e tem o direito de fazê-lo quando quiserem, já que são pessoas, sentem, agem e influenciam outros seres humanos. Se dirigentes de clubes se encontram com presidentes, por que, atletas e ex-atletas, não poderiam se expor diante de acontecimentos que lhe afligem ou que prejudicam a sociedade?

Manifestações contra o Racismo.

Após a morte brutal de George Floyd em Minneapolis, inúmeras manifestações contra o racismo ocorreram nos Estados Unidos e se alastraram por outros países. Nessas ocasiões era comum a presença de grandes atletas e figuras públicas notáveis. Astros da NBA como, LeBron James estiveram entre as pessoas pacificamente exercendo seu direito como cidadão.
Aqui no Brasil, as mobilizações também foram devido a nossa história recorrente de violência contra as pessoas negras e pobres, pela violência banalizada do Estado e pela negligência criminosa da elite.  A morte dos meninos, João Pedro e Miguel foi mais um dos vários motivos para juntar as outras mobilizações a favor dos direitos humanos por todo o país. O volante Tchê Tchê do São Paulo, publicou em suas redes sociais que esteve presente na manifestação pela Democracia em São Paulo (dia 7/06/2020). Engajado em causas sociais, ele tem duas tatuagens de símbolos históricos que lutaram contra o racismo. Em uma perna, Malcolm X e na outra, o rosto de Martin Luther King.



Destaques na mídia.

Durante essa semana alguns atletas negros deram entrevistas para a mídia em geral, separei trechos que achei relevantes para pensarmos a respeito do racismo no país:

“Eu estava falando sobre esse assunto hoje mesmo: o atleta brasileiro não se manifesta porque criou-se um mito em nosso esporte. Uma orientação dos patrocinadores para que a gente não se envolva em assuntos polêmicos”. – Kelly Santos, basquete.

“Para os negros brasileiros, independentemente da nossa posição social, as coisas são muito difíceis devido à política branca do país. E os negros com os quais deveríamos contar ainda são piores. Maltratam seu próprio povo. Exemplo? O chefe da associação dos quilombolas. Veja a atitude dele com os negros. “ – Beth Jorge, levantamento de peso.


“Racismo no Brasil é o mais sórdido do mundo. Em nosso país, o racismo vem pelas sombras, pelas trevas. Já nos Estados Unidos, os negros mais bem sucedidos são em maior número. Eles têm com se manifestar. Tem uma mídia para se comunicar. Aqui, o negro se cala por medo de ser atingido mais à frente pela política escravocrata que ainda persiste.” – Nelsinho Rocha dos Santos, professor e ex-atleta.

Além do mais, a morte do jovem negro já está incorporada à cultura do brasileiro. Morrem muitos jovens negros. Então o atleta acaba assimilando como algo normal. Claro que tem muito esportista que não está nem aí com a questão. E outra coisa é que o futebolista negro milionário acaba se igualando na sociedade e então para ele não importa mais a cor”.
“ A violência também está nos clubes de futebol. O jogador está na ponta da atuação no campo, mas toda gestão é feita por homens brancos, diretores, coordenadores, empresários, presidentes e donos. Esses, a qualquer ato político ou posicionamento dos jogadores, pressionam seus empregados. Assim como eu também fui pressionando durante minha carreira. Essas pessoas cortam seu salário, não renovam seu contrato, começam as perseguições políticas.”
Agora me diga: há justiça para os injustiçados? Alguém vai pagar os custos com advogados? Vai reembolsar os contratos não assinados, as competições perdidas? Temos o caso emblemático do jogador de futebol americano Colin Kaepernick, que iniciou os protestos na NFL ajoelhando-se durante o hino nacional. Ele não teve seu contrato renovado e está, até hoje, sem um time para jogar. O que aconteceu com os agressores de Tinga, Grafite, Taison, Daniel Alves e Roberto Carlos, entre os mais de mil casos de ataques racistas no futebol em nossa história?” – Diogo Silva, lutador de taekwondo.


Esses depoimentos mostram que falar de racismo é trazer a tona traumas, humilhações, diferentes tipos de violência, tristezas, raiva. Geralmente, recorrentes desde a infância, ou seja, desde a iniciação esportiva de qualquer atleta. O racismo pode afetar o desenvolvimento psicológico, destruir a autoestima, a autoconfiança, a autoimagem de qualquer criança negra. Portanto, é urgente que façamos ações efetivas para mudar essa realidade.

O racismo adoece, traz desigualdade e mata. Por isso, é mais que necessários que pessoas brancas também sejam cobradas a se posicionar contra o racismo. Afinal, não foram os negros que inventaram o racismo. Não são os negros que estão em posição de poder e decisão e que podem propor ações de combate à desigualdade racial.

“Estimulem-nos a falar, mas nos ouçam de verdade, nos apoiem e estejam conosco no campo de batalha. Aí sim você será um antirracista. Chega de morrermos por conta da nossa cor de pele. Vidas negras importam.” – Marcelo Medeiros, do Observatório da Discriminação Racial no Futebol.

Lembrando que os maiores ícones do esporte no brasil e no mundo são homens e mulheres de pele escura. Nossos heróis de carne e osso.
A Psicologia tem o dever social de ser antirracista e ajudar a combater nossas mazelas mais profundas. Esse deve ser um compromisso imprescindível para o nosso desenvolvimento como nação.


Referências:

https://brasil.elpais.com/esportes/2020-06-03/personalidades-do-esporte-lancam-manifesto-contra-o-racismo-e-pela-democracia.html

https://www.uol.com.br/esporte/reportagens-especiais/por-que-atleta-negro-se-cala-no-brasil/?fbclid=IwAR37Zn0tMDR2b4vq8tS5ppXmRBm5OT6unpxhnnhepi6jNhiki2_TfP5nQwg

https://www.uol.com.br/esporte/colunas/campo-livre/2020/06/04/diogo-silva-o-que-e-o-racismo.htm?fbclid=IwAR0IvsmLyO2h0MugVBUR6BRWAiMed5ZGlRnz9eFx2azMr_1DivlCm8K3nhE

https://globoesporte.globo.com/futebol/times/sao-paulo/noticia/tche-tche-do-sao-paulo-vai-a-manifestacao-contra-o-racismo-na-capital-paulista.ghtml?fbclid=IwAR0hFp9A-eEu9UNRAg64jbHUEj-nXBMONZH1jiV11s9sCN2V4_OrUSvBJ0s

https://www1.folha.uol.com.br/esporte/2020/06/mais-que-cobrar-posicao-de-atletas-negros-e-preciso-entender-seu-silencio.shtml

https://observatorioracialfutebol.com.br/e-os-brancos-com-isso-entenda-por-que-a-luta-contra-o-racismo-vai-muito-alem-dos-atletas-negros/

1 comentário em “Esporte pela Democracia e Direitos Humanos.”

  1. Parabéns pela iniciativa, O Esporte pela Democracia promove a conscientização sobre questões sociais e políticas, como a igualdade de gênero, a diversidade e a inclusão. Ela usa o esporte como uma plataforma para envolver jovens em debates e atividades sobre essas questões, incentivando-os a se tornarem cidadãos ativos e engajados em suas comunidades.

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