Por que escolhi(?) trabalhar com Psicologia do Esporte?

Uma amiga me perguntou, por que eu havia escolhido trabalhar com Psicologia do Esporte?  Respondi para ela brincando, ‘isso daria um post no blog’ (e deu mesmo). Comentei rapidamente, mas a pergunta ficou me martelando por alguns dias, mesmo eu sabendo das respostas (?). Lembrei de outro episódio, logo depois que me formei, outra pessoa me perguntou o que eu faria agora? Eu respondi, ‘vou me especializar em psicologia do esporte!’. Esse amigo também colega de profissão, indagou:  ‘rapaz você é maluco ao quadrado mesmo!!! Psicologia aqui no Brasil não têm reconhecimento! Esporte muito menos! Psicologia do esporte então ???”. Pronto, resolvi pensar mais a fundo sobre a primeira questão e a minha relação com o esporte. Compartilho com vocês nesse post um pouco  das minhas reflexões e angústias.

O esporte é um fenômeno social em que o componente Emoção está presente a todo momento. Talvez seja um dos acontecimentos de nossa sociedade em que verificamos níveis de emoções e sentimentos oscilarem em frações de segundos. Os “deuses” caem do Olimpo e  tornam-se mortais. Os astros despencam do pedestal, e seu brilho se apaga repentinamente. Heróis de outrora tornam-se vilões na mesma partida e vice versa. No esporte a linha que separa a loucura da normalidade é muito tênue. Depressão à euforia, raiva à melancolia, ansiedade ao relaxamento, desespero à esperança, paciência à agressão. Esses acontecimentos levam a raça humana ao limite físico e mental.

O esporte é paradoxal e contraditório ao mesmo tempo. Nada mais é do que apenas um jogo, basicamente isso. E como essa “brincadeira séria” é capaz de mobilizar tantas pessoas? A Fifa, por exemplo, apesar da corrupção (ou devido a ela) têm mais associados que a ONU. O esporte, sempre foi utilizado como plataforma política e ideológica (haja visto a gastança com o dinheiro público em nome da Copa e dos Jogos Olímpicos aqui no país). Atualmente serve para alguns magnatas “lavarem dinheiro” em grandes clubes. Ao mesmo, tempo há exemplos de instituições que auxiliam na inclusão social de crianças e jovens em comunidades pobres, transformando vidas no Brasil e no mundo. No passado, serviu como ideal higienista de homem na política nazista. Foi o foco da bipolaridade durante a Guerra-Fria. Hoje é também parâmetro de indicador econômico global e de desenvolvimento social.

Que elemento é esse de nossa cultura capaz de proporcionar uma verdadeira catarse coletiva para o bem e para o mal?  Capaz de encher de orgulho uma nação inteira pelo feito de um de seus filhos pródigos. Ao mesmo tempo, produz o tribalismo, a violência, a alienação e o fascismo das torcidas “organizadas”. Capaz de parar e alimentar guerras. Capaz de combater o racismo e difundir a xenofobia e a intolerância.

Combatido por muitos intelectuais como o “ópio do povo”, o “pão e circo” moderno.  Só o esporte foi capaz de juntar inimigos históricos, Judeus e Palestinos lutando por um mesmo ideal. Na África do Sul, os negros torcendo pelo Rugby dos brancos colonizadores, liderados por Nelson Mandela.

Como explicar Cuba? Desvio padrão das regras econômicas, como um governo totalitário ajudou a produzir atletas extraordinários? E no Brasil, com todo o nosso potencial geográfico e genético, apenas dominamos poucas modalidades. Vale ressaltar (sem ufanismo), nossos atletas são realmente excepcionais, conseguem proezas e resultados formidáveis mesmo com estrutura mínima  e com pouca política pública.

Há acontecimentos contraditórios e perversos no ambiente esportivo, o doping é um fato corriqueiro e cada vez mais banal. “Campeões” são idolatrados pelas crianças e jovens, servem de projeção no imaginário coletivo, de modelo de conduta social. Mas, quando são pegos se utilizando de substâncias proibidas para obter vantagens, mentem descaradamente, dizem ser vitimas de conspiração de adversários. A culpa ou responsabilidade é sempre do outro. Fingimos acreditar para evitar a frustração. Preferimos preservar o mito e não reduzi-lo a um mero mortal, sujeito as contradições humanas.

Esse mesmo fenômeno, incoerente, pode promover saúde, melhorar a qualidade de vida de populações e diminuir os gastos públicos com tratamentos de enfermidades através de exercícios físicos regulares. Porém, os mesmos comportamentos desencadeiam patologias graves para aqueles que abusam, deixando seqüelas físicas e emocionais para o resto da vida.

O esporte é extraordinário e surpreendente, não é ? Capaz de incluir e excluir pessoas. Desenvolver a autoestima ou arrebentá-la. Promover o desenvolvimento humano ou reforçar as mazelas sociais. Por essas e outras questões, atuo e sou fascinado por essa área tão apaixonante.

Que fenômeno é esse? Muito mais complexo do que pode supor nossa vã psicologia ….

Abraços.

Até!!!