Psicologia do Esporte: a bola da vez?

Esse post reproduz a entrevista que concedi ao Jornal do Federal (Conselho Federal de Psicologia – n. 103 – dez 11/jan 12), juntamente com os colegas Katia Rubio e José Rodrigues.

http://www.pol.org.br/pol/cms/pol/publicacoes/jornal/Jornal_Federal_103.html

Na Psicologia do Esporte, psicólogas  e psicólogos podem atuar em diferentes frentes, trabalhando com o esporte para inclusão social ou na preparação de atletas com alto rendimento, que tenham o esporte como profissão ou estejam se preparando para isso. Em ambos os casos, é preciso superar desafios para que a parceria entre Psicologia e Esporte seja vencedora.

Psicologia do Esporte: a bola da vez?

 Jogada cidadã

Quando o esporte funciona como ferramenta de inclusão social, psicólogas e psicólogos podem integrar equipes em projetos sociais. Rodrigo Scialfa Falcão é psicólogo do esporte e atua em duas frentes, com atletas de alto rendimento e no projeto social do Instituto Rugby para Todos, localizado na comunidade de Paraisópolis no bairro do Morumbi, em São Paulo. “O foco principal do nosso trabalho é utilizar o rugby como ferramenta de inclusão social, complemento da educação, cidadania, lazer e saúde. Para isso, temos de seguir algumas diretrizes e metodologias, uma delas é baseada nos quatro pilares da educação da Unesco”, conta Falcão, que coordena a equipe de Psicologia que conta com mais três psicólogos.

O projeto atende 150 crianças e jovens entre sete e 18 anos, que participam das atividades três vezes na semana e quando há campeonato pode chegar até cinco vezes na semana. O rugby é disputado em mais de 120 países e segundo Falcão é uma modalidade esportiva que por si só é inclusiva, pois não é necessário biótipo físico específico para praticar.

Além do trabalho com as crianças e jovens, o psicólogo ressalta que a equipe de Psicologia dá suporte também aos monitores do projeto, propões contato com as escolas   da comunidade e verifica se o atendimento impacta na educação formal, estreita a relação com a família dos alunos por meio de reuniões periódicas, como forma de estabelecer vínculos e entender melhor o contexto em que os alunos estão inseridos.

” O papel da Psicologia é muito importante e pode contribuir para o desenvolvimento da autoestima, da cidadania e da saúde mental das pessoas em vulnerabilidade social. Aliar o esporte com a Psicologia pode ser um grande instrumento para inclusão social, mas é necessário utilizar metodologias adequadas para que esse esporte, educativo e inclusivo, não sirva para exclusão e para reforçar ainda mais as mazelas sociais. Não basta chegar  a uma comunidade ou bairro carente com algumas bolas e achar que isso é suficiente”, alerta Falcão.

Desafios

A capacitação de psicólogas e psicólogos para atuar na Psicologia do Esporte ainda é um desafio para a área. Segundo Kátia Rubio, especialista em Psicologia do Esporte e professora da Escola de Educação Física e Esporte da Universidade de São Paulo, é preciso incluir a disciplina na grades dos cursos de graduação para proporcionar o primeiro contato dos estudantes de Psicologia com o campo. Rodrigo Scialfa Falcão destaca que existem muitas demandas, tanto práticas quanto acadêmicas. “O mercado de trabalho ainda não está totalmente aberto as psicólogas e aos psicólogos do esporte em todas as áreas de atuação, mesmo às vésperas de megaeventos como a Copa do Mundo e Jogos Olímpicos no país, ainda existe resistência e desconhecimento em relação ao nosso papel”, expõe.

De acordo com Falcão, nos últimos anos têm ocorrido mais ofertas para contratação de psicólogos do esporte, justamente em projetos visando esses megaeventos, porém ainda não é o ideal. ” Existem muitos profissionais capacitados, com pós-graduação que não conseguem se inserir no mercado”, conta.

Alto rendimento

“Uma das áreas mais promissoras”, assim Kátia Rubio, enxerga o futuro da Psicologia do Esporte dentro da profissão. Ela atribui o cenário otimista ao desenvolvimento do esporte no País e aos dois grandes eventos que serão sediados pelo Brasil – Copa do Mundo e Jogos Olímpicos.

A psicóloga coordena a equipe multidisciplinar da Confederação Brasileira de Tênis de Mesa, e trabalho com esporte de alto rendimento. “Quando falamos de alto rendimento, falamos de uma pessoa que é expoente no seu fazer. Além das questões ligadas ao esporte, como controle da ansiedade, ela tem de lidar com as questões que essa posição alcançada por ela traz, ou seja, o controle dessa figura pública que ela se tornou”, explica. ” A nossa proposta de trabalho é que os psicólogos possam dar ao atleta às condições para que ele desempenhe bem a sua função”, completa.

Kátia aponta ainda um desafio específico dos atletas brasileiros, trabalhar um sentimento de inferioridade quando competem com atletas americanos, europeus, asiáticos. ” Hoje trabalhamos isso com eles dizendo que possuem as mesmas condições dos atletas estrangeiros, ou seja, é trabalhar a questão de colonizado para a potência.” Sobre  a polêmica do esporte de alto rendimento ser uma atividade excludente, pois privilegia os mais habilidosos, a psicóloga diz que é equivocada e defende o trabalho das potencialidades no esporte, por ser uma necessidade dos atletas.

Esporte como exclusão?

O psicólogo doutorando em Psicologia pela Universidade Federal Fluminense e colaborador da Comissão Regional de Direitos Humanos do CRP-RJ, José Rodrigues, desenvolve sua tese de doutorado focado na análise de acontecimentos na capital fluminense, como as remoções de comunidades, a instalação de Unidades de Polícias Pacificadoras (UPPs) e, também, no recolhimento e internação de jovens usuários de crack. ” São acontecimentos que estão diretamente ligados à preparação do Rio de Janeiro para os megaeventos esportivos”, afirma.

Segundo Rodrigues, o trabalho está no inicio, mas já é possível destacar que para além da Copa e das Olimpíadas, o que está em jogo no Rio de Janeiro é a produção de um determinado modelo de cidade lucrativa ao capital financeiro internacional, isto é, a própria cidade enquanto uma mercadoria. ” É em nome desta lucratividade capitalista que a cidade tem sido “limpa” dos indesejáveis sociais: removem-se comunidades inteiras localizadas em áreas valorizadas pela especulação imobiliária. Famílias são retiradas da noite para o dia de suas casas e, de modo precário, são alojadas em áreas distantes. As instalações da UPPs se  dá em nome da pacificação, mas é uma estranha paz, feita de guerra. Paz, sobretudo, para área hoteleira da zona sul, para a remoção dos pobres de áreas nobres da cidade. A festa dos Megaeventos não é para os pobres. Antes, eles são como uma pedra ao ordenamento higienista dos espaços urbanos”, denuncia.

O doutorando propõe para as psicólogas e psicólogos questionamentos em relação às práticas profissionais: “a quem ou ao que temos servido? Como podemos criar e potencializar espaços de resistência e luta contra as forças que em nome da lucratividade, transformam vidas em lixo e cidades em mercadorias.”

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Abraços

Até!!!

 

 

 

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