Reflexões olímpicas

Infelizmente já acabou os jogos olímpicos, passou rápido, tivemos momentos de intensas emoções com cenas e imagens inusitadas que já estão na história e ficarão em nossa memória. Assistimos a Phelps e Bolt virarem mitos, quebra de recordes, a derrotas e vitórias, frustrações, surpresas, decepções entre tantos outros acontecimentos.

O Brasil ficou na vigésima segunda colocação, atrás de Cuba, Jamaica, Correia do Norte, Nova Zelândia, Irã, Cazaquistão. Alguma surpresa? Não, essa é a nossa realidade, o Brasil é coadjuvante em jogos olímpicos, somos uma potencia pan-americana, porém, nossos atletas são cobrados pelo torcedor comum e até por parte da mídia “especializada” como se fossemos potencia olímpica.

Reflexões olímpicas

Três fatos por aqui chamaram muito minha atenção nesses 17 dias de evento. Primeiro, nunca se falou tanto de psicologia do esporte. Segundo, a gestão esportiva ou a falta da mesma nessas bandas nunca havia sido tão discutida. Por último, algumas reações desmedidas pelas redes sociais de torcedores e atletas se tornaram foco de discussões acirradas. Tentarei ao longo do post tratar um pouco sobre esses temas.

Com relação a Psicologia do Esporte, por um lado fiquei extremante feliz até porque atletas medalhistas: Arthur Zanetti, Sarah Menezes, Bruno Prada, Thiago Pereira, Yamaguchi Falcão, valorizaram o trabalho psicológico desenvolvido por eles ou a necessidade do mesmo.  Esses episódios vieram muito bem a calhar, até porque ainda existe os incrédulos e ignorantes que insistem em negar a credibilidade de nossa ciência. Por outro lado, tenho certo receio de que sejamos  “usados como bode expiatório”  pela cartolagem como  tão bem mostra o texto do jornalista  Mauro Cezar Pereira. 

Gostaria de propor um reflexão aos colegas e aos leitores do blog, devemos tomar cuidado com a nossa “onipotência”, podemos fazer a diferença sim, mas com o trabalho integrado junto com uma equipe de diversos profissionais. E mesmo assim, o esporte é feito por gente de carne e osso passiveis de erros e de limitações. Por isso, o esporte é tão fascinante e atrai multidões. É comum atletas terem todo o apoio necessário, estarem preparados psicologicamente e não terem bom rendimento, o “imponderável esporte clube” também pregas suas peças. O esporte é como uma metáfora da vida. A expectativa é para que tenhamos oportunidades para desenvolver nosso trabalho com um leque maior de confederações e comissões técnicas. Em 2016 a pressão será enorme e lidar com isso será imprescindível e fundamental para um bom desempenho.

Com relação a gestão esse é o nosso maior problema e nossa melhor solução, recursos como todos sabem há, como nunca antes.  O COB tem de cuidar “apenas” do esporte olímpico, o “restante” é dever do ministério do esporte. O nosso ministro, Aldo Rebelo, não é do ramo, está a frente do ministério por questões político-partidária, no meu modo de entender isso faz toda a diferença. Falta política pública de estado para massificação do esporte, falta diretrizes para o Ministério do Esporte utilizá-lo como ferramenta para promoção da saúde  e complemento da educação. Não há integração entre os diferentes ministérios (esporte, educação e saúde), o esporte é um fenômeno sociocultural e deveria ser tratado também como prioridade. Faltam quadras em escolas, professores de educação física nas mesmas, espaços públicos, centros esportivos, parques, áreas de lazer.  Não há objetivos e metas claras para detecção de talentos para o alto rendimento, falta fiscalização nas instituições esportivas. As soluções obviamente não são simples, mas com gestão adequada são possíveis de serem implementadas a longo prazo.

Já, com relação às manifestações pelas redes sociais, vivemos num país livre e democrático, penso que as pessoas têm o pleno direito de se expressar. Não concordo com as manifestações descabidas, ufanistas, não da para tolerar execração pública de atletas feita por telespectadores de ocasião quando essas não são construtivas e sim pessoais. Cabe também aos atletas saber lidar com esses aspectos, já que é um fenômeno crescente e corriqueiro em nossa cultura. Penso, inclusive, que as cobranças são válidas, não por resultados, medalhas ou pódios, mas por rendimento.  Até porque, grande parte do investimento no esporte é advindo de dinheiro público. Outra questão que me chama a atenção, é o fato de poucos atletas se manifestam a respeito das mazelas que sofrem, talvez por receio de se expor ou medo mesmo de represálias de dirigentes. Gostei das declarações de Diogo Silva, ao final de sua participação:  “há três tipos de atletas: os medalhistas, os patrocinados e os operários. Os dois primeiros não falam nada. Quem está ferrado é que vai à luta”. Adriana Araújo também não poupou o presidente da Confederação Brasileira de Boxe, Mauro José da Silva, comentou sobre suas dificuldades, falta de apoio etc. Afinal de contas, os atletas são os protagonistas do espetáculo, são referências, mexem com o imaginário das pessoas e deveriam ter atitudes um pouco mais assertivas com o intuito de tentar melhorar o meio em que estão inseridos.

Rio 2016

O ciclo olímpico da cidade do Rio de Janeiro se inicia hoje, é obrigação do Brasil  realizar bons jogos. Tenho certeza que não faltará calor humano, somos um povo acolhedor. Precisamos aprender a torcer, estamos acostumados principalmente com futebol e esportes coletivos, há modalidades que a cultura é totalmente diferente, não há lugar para vaias, xingamentos e até muitas manifestações. Não me esqueço de uma cena protagonizada por um  ex-atleta de renome internacional no Pan do Rio em 2007. Ele foi o líder das vaias no ginásio as atletas de outras nacionalidades nas provas de ginástica artística, tudo isso ao vivo em rede nacional com o consentimento da emissora. Totalmente descabido, inadequado e deselegante (pra dizer o mínimo). Um dos lemas olímpicos é o respeito e a tolerâncias entre os povos e isso deve ser levado ao pé da letra.

Não nos falta competência e profissionais sérios em todos as áreas, nosso grande problema é político e isso me amedronta. É nosso dever como cidadãos zelar pelo bem público, exigir transparência dos organizadores, da prefeitura da cidade, do governo do estado, do Ministério do Esporte e até da Presidência da Republica. Infelizmente já há conflito de interesse em jogo, na organização, na gestão e no planejamento das obras.

O superintendente do COB,  Marcus Vinícius Freire, em entrevista a ESPN Brasil, prometeu que figuraremos entre os dez primeiros, talvez até seja possível, o fator “casa” geralmente pesa a favor. Esse mesmo dirigente em outra entrevista, dessa vez ao canal Sportv, comentou: ” que atleta não pode receber dinheiro vivo, porque senão reforma a casa, muda de carro, compra televisão de plasma e não foca no treinamento. Por isso passa pelo COB”. Ele ainda afirmou, “que não há no Brasil quem entenda mais de esporte do que o  COB”.  Essa é a mentalidade do alto escalão de nosso esporte, detalhe ele é um ex-atleta. Muito preocupante esse tipo de postura e essas verdades absolutas.

Nosso esporte é reflexo direto de nossa sociedade. Não se constrói uma nação olímpica só com acesso as praticas esportivas, temos antes de tudo nos tornarmos uma civilização mais desenvolvida, isso passa principalmente pela educação e saúde de qualidade para população. Basta ver os exemplos dos onze primeiros colocados nos jogos de Londres (talvez exceção feita a China). Afinal, nosso governo não gosta de encher a boca para falar que somos atualmente a sexta economia mundial?  Já passou da hora de evoluirmos socialmente e o esporte olímpico será consequência disso.

Abraços.

Até!!!

 

 

 

 

 

 

 

 

2 comentários em “Reflexões olímpicas”

  1. Olá, Rodrigo! Aqui é George, de Natal-RN! Conhecemo-nos em Maringá e espero que estejamos novamente juntos em SP, no SIPD. Parabéns pelo texto. Que sirva de reflexão, sobretudo, para os nossos ´´ gestores ´´ !

    Abraços,

    George Cunha

  2. Olá.
    Excelente texto. Infelizmente o COB, assim como a CBF, CBV e outros, possuem uma mentalidade essencialmente “velha”. Fora a corrupção e todos os problemas nacionais já conhecidos, lá impera um pensamento do século passado. Espero que a Rio 2016 mude esse panorama. Um décimo lugar no quadro geral seria um sonho, mas acredito que a prioridade seja tornar os esportes famosos, e que essa fama não dure apenas duas semanas.
    Quanto ao povo brasileiro, apesar de acolhedores, não sabemos perder, e também não sabemos valorizar o que temos, isso vem desde a infância, com crianças quebrando cadeiras e carteiras em escolas públicas, ou fazendo “guerra de maçã”, algo que eu mesmo presenciei na minha época de ensino fundamental. O brasileiro precisa aprender a apreciar um 6º lugar nos Saltos Ornamentais, plataforma de 10 metros, por exemplo, tanto quando aprecia uma medalha de ouro no Vôlei Feminino.

    No mais, excelente blog, sou estudante de Psicologia e no momento estou propenso a seguir essa área.

    Até mais,

    Ailton.

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